terça-feira, 26 de julho de 2016

Trabalhos apresentados no ST História Ambiental na Anpuh-RS

Em 20 e 21 de julho de 2016, aconteceu o Simpósio Temático História Ambiental, no XIII Encontro Estadual da ANPUH-RS, na UNISC, em Santa Cruz do Sul. O ST contou com 10 apresentações de trabalho e foi coordenado pelo GT História Ambiental RS.

Abaixo, constam os resumos das comunicações e fotos de algumas das apresentações.

Túnel de Tipuanas no centro de Santa Cruz do Sul-RS


Arqueologia, Arqueobotânica e História Ambiental: análises, métodos e teorias
Autor: Neli Teresinha Galarce Machado (UNIVATES)

Resumo: Durante anos investigadores do meio acadêmico tentam exaustivamente criar definições sobre suas ciências, especialmente as humanas. Em especial, a ciência histórica levanta questionamentos acerca de suas auxiliares. De um ponto de vista interdisciplinar, todas as relações científicas e filosóficas seriam possíveis. No entanto, as discussões permeiam e navegam em mares e áreas das ciências ambientais, objetivando entender as dinâmicas sociais e culturais em tempo histórico e natural. A arqueologia em conjunto com a história ambiental se une para criar ou compreender os processos de absorção das materialidades em conjunto com as ideias de sobrevivência das sociedades no tempo histórico. Este texto tem o objetivo de aproximar teoricamente essas duas áreas correlatas e importantes. Para tanto será necessário elucidar conceitos e contextos de estudos americanos e europeus desde a década de 1970. Ao longo da história das sociedades as plantas têm sido utilizadas para alimentação das pessoas e dos rebanhos, como medicamentos, para a manufatura de todos os tipos de artefatos, para a construção de casas, meios de transporte ou para obtenção de energia por meio da combustão. Sendo assim, as plantas tem sido um recurso importante para o desenvolvimento da espécie humana. Para o uso das plantas das florestas e bosques, as sociedades usam das mais diversas formas de aproveitamento e de diferentes técnicas de manejo a cada tempo, passando desde a coleta até a intervenção mais direta nos ciclos produtivos das plantas, como exemplo a agricultura e manejo artificial. O principal objetivo desse estudo é discutir aspectos vinculados as pesquisas arqueobotânicas e de história ambiental para as investigações em sítios arqueológicos brasileiros. No Brasil, os estudos das plantas em contexto arqueológico ainda são recentes e poucos. Isso se deve a invisibilidade da temática e aos métodos de recuperação. Consequentemente, os conhecimentos sobre a importância das plantas na pré-história são minimizados. Os principais eixos dessa análise são os tipos de plantas até hoje identificados em sítios e as estratégias econômicas das sociedades antigas. Como suporte utilizaremos estudos recentes sobre dois sítios arqueológicos da região do Vale do Taquari, onde se verificou a partir da arqueobotânica alguns resultados importantes para um rápido entendimento de como as sociedades antigas usufruíam de sua paisagem. Podemos também verificar situações sobre as dinâmicas tecnológicas e socioambientais dessas populações observando seus micro e macro restos. Para esse estudo inicial, apresentaremos alguns dados etnográficos, etnobotânicos e arqueológicos além de conexões com sítios arqueológicos brasileiros.

Apresentação Neli Machado
A colonização Guarani nas planícies que margeiam os rios e arroios da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari, Rio Grande do Sul, no período pré-colonial
Autor: Marcos Rogério Kreutz (UNIVATES)

Resumo: Estima-se que a partir do século XIII, as planícies de médio e grande porte, localizadas em ambas as margens dos maiores rios e arroios da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari, Estado do Rio Grande do Sul, foram colonizadas por populações Guarani. Datações radiocarbônicas realizadas em sítios arqueológicos demonstram que a ocupação fora ao longo de pelo menos seis séculos. Esses grupos construíram um modo de vida e procuraram ambientes, em que era possível exercer seus hábitos e costumes. Aspectos simbólicos influenciavam na escolha de uma nova área a ser colonizada por grupos Guarani, entretanto, diante da instalação dos assentamentos, as características físicas do ambiente eram fatores que também concorriam para a escolha de um local favorável. Dessa forma, é possível relacionar a procura pelas várzeas férteis com as suas características de cultivadores e manejadores da floresta. Essa característica encontra sua relação na ligação solo/vegetação florestal. O objetivo do presente trabalho é apontar as características físicas, ambientais, que influíam na escolha do local, bem como, os locais colonizados. Para elaboração do estudo, utilizou-se a metodologia qualitativa-descritiva, e os instrumentos metodológicas foram: a pesquisa bibliográfica, documental, atividades de campo, elaboração de um modelo preditivo e análise de datações radiocarbônicas. Como resultado, foram apontadas áreas e suas características ambientais, ao longo dos rios e arroios de maior porte da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari, colonizadas por populações Guarani entre os século XIII e XVIII.

Espaço e ambiente na expansão territorial dos Guarani pré-coloniais: um estudo de caso no centro-sul da Bacia do Rio Taquari/Antas
Autor: Fernanda Schneider (UNIVATES)

Resumo: Os Guarani pré-coloniais ocuparam uma grande parcela do território que hoje se configura como Brasil, partes da Bolívia, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina, deixando marcas significativas de sua cultura material e organização social nos territórios passados. A extensa ocupação territorial fez com que desde cedo o interesse dos pesquisadores tenha recaído sobre questões espaciais, ocasionando, de uma forma geral, duas hipóteses ecológicas distintas para a explicação do volume de conquistas territoriais empreendidas pelos Guarani. Na primeira, relacionada aos estudos de Betty Meggers e Clifford Evans, a principal motivação para a ocupação dos espaços teria sido relacionada ao possível esgotamento de recursos ambientais no entorno das aldeias, configurando o abandono destas e a migração para novos territórios como uma necessidade urgente frente às limitações ambientais observadas pelos Guarani. Na segunda abordagem, relacionada a Donald Lathrap e José Brochado, o principal motivador para a expansão do território teria sido o crescimento demográfico. O espaço sofreria constantes manejos ecológicos não permitindo a escassez dos recursos ambientais e ocasionando longas ocupações nas aldeias, até mesmo de séculos consecutivos, resultando na formação de novas aldeias somente por meio de pressão demográfica. A partir dessas hipóteses, o presente trabalho propõem-se a testar arqueologicamente o comportamento espacial dos Guarani pré-coloniais. Realizou-se, para tanto, um estudo de caso na porção centro-sul da Bacia do Rio Taquari/Antas, no nordeste do estado do Rio Grande do Sul, onde se verifica um perímetro de ocupação Guarani pré-colonial formado por 121 sítios arqueológicos. A metodologia centrou-se na elaboração de um quadro regional de 11 datas em 14C (Carbono 14) e no estudo cronológico sistemático de uma camada de ocupação de um sítio específico, o RS-T-114. Como resultados, o estudo da camada de ocupação do sítio RS-T-114 indicou uma ocupação de até cinco séculos (entre séculos XIV e XVIII) consecutivos na aldeia. As datas realizadas em outros sítios arqueológicos da região apresentaram-se contemporâneas às deste sítio, indicando a presença de assentamentos simultâneos em toda a região, demostrando, da mesma forma, que as aldeias não eram abandonadas durante a expansão territorial. Esses resultados inclinaram-se às hipóteses de Lathrap e Brochado, indicando uma longa e contínua ocupação regional e local para os sítios da região. Como exposto pelos autores, essa dinâmica de ocupação secular só teria sido possível a partir de um controle ambiental efetivo e não passivo, permitindo, por um lado, a manutenção das aldeias e a preservação de áreas de caça e, por outro, o crescimento demográfico e a expansão para novas aldeias.
Apresentação Fernanda Schneider
TERRITÓRIOS, CULTURAS E SUJEITOS SOCIAIS EM CONFLITO: USOS DA MEMÓRIA NA DISPUTA PELA TERRA ENTRE INDÍGENAS E AGRICULTORES NO NORTE DO RS.
Autor: João Carlos Tedesco (UPF)

Resumo: O trabalho analisa dimensões simbólicas que fazem parte da luta pela terra entre indígenas, comunidades de negros/quilombolas e agricultores no Norte do Rio Grande do Sul; busca centrar a questão da importância da terra, das matas, da propriedade, e, também, de elementos de memória que atestam territorialidade e tradicionalidade. O trabalho dá ênfase aos horizontes materiais e imateriais da memória contidos em laudos técnicos de ambos os sujeitos envolvidos demonstrando sua importância e seu uso na constituição dos argumentos de suas demandas.

Apresentação João Tedesco
Caminhos da História: Os relatos de viagem sobre o Rio Grande do Sul, sua natureza e seu povo, um estudo partindo da obra de Nicolau Dreys.
Autor: João Davi Oliveira Minuzzi (UFSM)

Resumo: Neste trabalho irei analisar o relato de viagem de Nicolau Dreys, publicado em 1840. Em seu relato, Dreys compila os conhecimentos, impressões e representações adquiridas durante os dez anos em que permaneceu na província do Rio Grande do Sul, entre 1817 e 1827. Partindo do estudo deste relato de viagem, procuro compreender como era a relação entre a sociedade e a natureza do Rio Grande do Sul, especialmente no que se refere à relação com o bioma pampa. Tenho como base teórica a história ambiental e seus estudos sobre os aspectos mentais e culturais a respeito do pensamento ambiental, que possibilitam verificar como Dreys percebia os aspectos naturais da região e a relação destes elementos com a sociedade que habitava o território. Para este estudo, verifica-se a importância dos aspectos culturais que acabam moldando o que se entende por paisagem e natureza, além das representações que caracterizam tal espaço regional, criam identidades e constituem bases de pensamento ambiental do período. Além de analisar a fonte, buscarei trabalhar com a historiografia e o debate teórico sobre o tema e sobre a utilização da história ambiental e dos relatos de viagem para o recorte espaço-temporal da minha pesquisa, o Rio Grande do Sul no século XIX. Destacando as possibilidades que este campo apresenta e as mais recentes contribuições da história ambiental para pensar este espaço.

Extrativismo, ciência e colonização – três projetos em torno do uso dos ervais no Vale do Rio Pardo – Rio Grande do Sul/BR – séc. XIX
Autor: José Paulo Eckert (SEDUC)

Resumo: O trabalho aqui proposto problematiza, desde o ponto de vista do extrativismo da erva-mate (Ilex paraguariensis), três diferentes projetos para a região de floresta subtropical existente no Vale do Rio Pardo/RS durante o séc. XIX. É comum encontrarmos em abordagens do Rio Grande do Sul no mesmo período, o conceito de “projeto” relacionado a empreendimentos (estatais ou privados) de colonização de lotes de terra por imigrantes em uma ocupação dirigida. Considero aqui o uso do conceito para duas outras propostas, a dos ervateiros, trabalhadores que direcionaram seus esforços para o extrativismo e produção da erva-mate deste o princípio da colonização europeia na região, e a do botânico Aimé Bonpland, notório principalmente por sua parceria com Alexander von Humboldt, e que em 1849, no mesmo período do início do assentamento de colonos por uma imigração dirigida, articulava criar na região uma fazenda modelo para produção de erva-mate.
O extrativismo da erva-mate no século XIX no Rio Grande do Sul está fortemente relacionado com a colonização e o avanço da fronteira agrícola. Uma conjunção de fatores secundários possibilitou este fato, entre eles: o aumento da demanda pelo produto a partir do incremento populacional da província e da incipiente exportação para a bacia do Prata, a saturação fundiária das áreas de campo e trabalhadores disponíveis para se dedicar ao extrativismo. O fator principal, a disponibilidade da planta em uma vasta extensão de florestas e que já vinha sendo explorada desde antes da ascensão europeia na América.
Com a exposição destes marcos, espero poder discutir no simpósio questões concernentes à relação do homem com a natureza através da prática extrativista e como a sociedade do oitocentos na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, tendo em vista diferentes possibilidades/projetos, se relacionou com este ecossistema nas florestas subtropicais.

Apresentação José Eckert

A Febre Amarela em Buenos Aires através da análise da pintura de Juan Manuel Blanes
Autor: Cyanna Missaglia de Fochesatto (UNISINOS)

Resumo: A presente pesquisa busca analisar uma pintura de artista Uruguaio Juan Manuel Blanes, datada do ano de 1871, intitulada Episódio da Febre Amarela. Blanes foi um pintor que ao longo de sua carreira conquistou grande prestígio entre as sociedades Uruguaia e Argentina. A pintura histórica Episódio da Febre Amarela foi uma de suas representações mais significativas, especialmente por ter conseguido alcançar um grande público e uma ótima crítica da imprensa local. Ao retratar a tela, Blanes pintou além da memória de uma das grandes epidemias do século XIX em Buenos Aires, como também retratou um problema social e político que permite fazer uma leitura sobre a precariedade da organização urbana e da deficiência das questões de saúde pública nesse ambiente. A febre amarela atingiu uma parte relevante da população, sendo assim, ela traz uma narrativa pertinente sobre a relação da representação com os discursos da época sobre a doença. Busca-se, portanto, o entendimento sobre as medidas referentes à insalubridade, organização social e urbana, questões de saúde pública, e os argumentos utilizados pelos higienistas e sanitaristas visando relacionar esse contexto à análise da pintura.

Apresentação Cyanna Fochesato
Águas poluídas e urbanização no Rio Grande do Sul da Primeira República
Autor: Fabiano Quadros Rückert (Pref. São Leopoldo)

Resumo: Na transição do século XIX para o XX, a urbanização no Rio Grande do Sul intensificou-se e o processo de poluição hídrica nas principais cidades sul rio-grandenses passou a receber uma expressiva atenção do governo e da imprensa. No período da Primeira República, a percepção da poluição hídrica como uma ameaça para a salubridade da população e a crescente demanda por água potável provocaram discussões sobre o problema das águas poluídas e sobre as estratégias para combatê-lo. Naquele contexto, o saber técnico dos engenheiros ganhou importância e o poder público investiu em projetos e obras de saneamento em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Considerando a poluição hídrica como consequência das intervenções humanas no ambiente, pretendo analisar a história das águas poluídas no Rio Grande do Sul da Primeira República, na perspectiva da História Ambiental, explorando a imprensa e os projetos de engenharia como fontes documentais.

As Enchentes do Rio Uruguai no Município de São Borja: História e Política
Autor: Susana Cesco (UNIPAMPA)

Resumo: Este trabalho visa investigar a relação das comunidades ribeirinhas do município de São Borja, no oeste do estado do Rio Grande do Sul com as enchentes recorrentes do rio Uruguai com destaque para o final do século XX e início do século XXI. O texto analisa a mudança nas enchentes que eram percebidas como cíclicas e passam a ocorrer de forma “desordenada” em períodos mais recentes. Será analisado também o enquadramento de tais eventos como desastres naturais, com exploração da legislação pertinente, bem como das políticas públicas adotadas em termos de prevenção e defesa civil.

Apresentação Susana Cesco
Pressupostos econômicos na ética do convívio ecossustentável de José Lutzenberger
Autor: Elenita Malta Pereira (UNICENTRO)

Resumo: O engenheiro agrônomo porto-alegrense José Lutzenberger (1926-2002), durante sua militância como ambientalista, ao longo de 31 anos, divulgou uma série de preceitos éticos que, em sua visão, as pessoas deveriam seguir em suas interações com a natureza. Essa ética, que denomino “ética do convívio ecossustentável”, foi enfocada em minha tese de doutorado, defendida na UFRGS em janeiro de 2016, um estudo biográfico de Lutzenberger, sob a perspectiva da história ambiental. Dentre os preceitos disseminados pelo ambientalista, a economia, em sua corrente ecológica, ganhou destaque. Os autores mais importantes dessa corrente com os quais Lutzenberger manteve diálogo foram o norte-americano Herman Daly (1938-) e o inglês Ernest Schumacher (1911-1977). Com o primeiro, ele desenvolveu uma relação de amizade, estabelecendo uma correspondência por mais de uma década. Ambos os economistas produziram obras de destaque, das quais Lutzenberger se apropriou em suas leituras. Fundamentado nesses autores, ele teceu uma importante crítica do sistema econômico, em especial ao que chamava de “dogma do crescimento econômico”. Também criticava ferozmente que o desenvolvimento de um país fosse medido pelos índices de PNB e PIB, pois estes não contabilizavam a perda da natureza. Em contrapartida, ele defendia uma economia de estado estável, na qual não haveria a obrigação do crescimento, mas sim a busca pela estabilidade, baseada no conceito de Homeostase. Ou seja, uma economia em que as entradas e saídas de materiais fossem equivalentes, imitando o modelo de funcionamento dos ecossistemas, de forma a não gerar lixo e degradação ambiental – uma economia mais justa tanto para com os elementos naturais como em relação às sociedades humanas.

Abaixo, mais algumas fotos do evento:

Debate dos trabalhos apresentados no primeiro dia

Público no primeiro dia

Público no segundo dia

Membros do GT presentes

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